Notas sobre Diogo Nunes Belmonte (JACOB ISRAEL BELMONTE)

Ao contrário de Menasseh ben Israel e de seus pais Joseph ben Israel e Rachele Soeira, de Diogo Nunes Belmonte não faltam provas documentais da sua passagem pela Ilha da Madeira.

Diversas fontes históricas e académicas referem que Diogo Nunes Belmonte era mercador e já residia na Madeira na última década de quinhentos. Possuía a sua própria nau, denominada “La Pomba” e, em 1606 seria, inclusivamente, acusado de comerciar com os “estados rebeldes” holandeses.

Mas, mais óbvias do que as referências feitas por diferentes autores que o relacionam com a cidade do Funchal, são os diversos assentos de batismo da do Funchal em que Diogo constava, e consta, na qualidade de padrinho de muitos dos filhos de diversos cristãos-novos residentes na Madeira nessa época.

Como este: b. Manuel filho de Gaspar Nunes, sapateiro, e de sua mulher Maria Gonçalves. 30 de março de 1604, Sé do Funchal. Foi padrinho Diogo Nunes Belmonte. https://arquivo-abm.madeira.gov.pt/viewer?id=31602&FileID=618463

Com um pouco de sorte seria o registo do próprio Menasseh ben Israel… Só que não.

Qualquer comum mortal, dos que leem livros paroquiais por desfastio, poderá facilmente topar com a sua assinatura nesses assentos e desse modo ficar a conhecer um pouco do que seria a demografia cristã-nova da Ilha.

Seja como for, em 1606, aquando da acusação de traição, já estava, segundo os fintadores, ausente da Ilha e, não deixou por lá descendência pois só em Amesterdão casou, em 1608, com Guiomar Vaz (em hebraico, Simha) adotando nessas paragens o nome de Jacob Israel Belmonte. Apesar disso, o seu nome volta a ser arrolado na Ilha, em 1610, para pagar tributo, inscrito no Livro do Finto, tal como todas “as pessoas que decendem da dita nação por linha mascolina”.

Segundo parece, no decorrer da sua fuga deixou um documento escrito no qual expressava diretamente a sua crença no D’us de Israel.

Em 1607, em Amsterdão, como se disse, adotou o nome de Jacob Israel Belmonte e procriou como manda a Lei, teve dez filhos (Sara, Sara, Raquel, Davi, Rebeca, José, Benjamin, Moisés, Salomão e Samuel) que se consorciaram com membros das mais importantes famílias da elite mercantil da época.

Em Amsterdão Diogo/Jacob foi um dos fundadores da comunidade judaica portuguesa e era tido como um dos comerciantes mais ricos da comunidade. A partir dessa cidade, Diogo Nunes dirigia, com outros cristãos-novos, operações comerciais que se estendiam por todo globo, incluindo Lisboa e Madeira. Tinha também negócios em Goa e Cohin na Índia, assim como no Brasil. Negociava igualmente em escravos, que trazia de Angola e vendia nas Índias Ocidentais.

Jacob ben Israel morreu em 1629 e foi enterrado no cemitério Ouderkerk, tal como Menasseh ben Israel. Consta, curiosamente, que está enterrado a seu lado Elieser, um escravo que se converteu ao judaísmo. O facto de eles estarem próximos um do outro é apenas uma questão de ordem de entrada no cemitério. E deste modo, na morte o traficante de escravos é enterrado ao lado do escravo.

 

Para mais informações e curiosidades:

Este link tem algumas incorreções, no entanto não deixa de ser interessante perceber que apesar do tempo passado se mantém o interesse no personagem: https://www.joodsamsterdam.nl/jacob-israel-belmonte-diogo-nunes-belmonte/

Dicionário histórico dos sefarditas portugueses: mercadores e gente de trato - https://esefarad.com/wp-content/uploads/2010/12/capa_dicionario.jpg

Rol dos Judeus e seus Descendentes (Arquivo Histórico da Madeira. Série de Transcrições Documentais I).

Judeus e Cristão Novos no Mundo Lusófono (Marina Pignatelli).

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