PERPLEXIDADES SOBRE MANUEL NUNES

Ao contrário dos muitos registos de escravos que tenho encontrado nestes anos de pesquisa genealógica, este meu antepassado nasce sem que no seu registo de batismo surja essa menção. Mais, o registo de casamento dos pais nunca faria suspeitar desta condição. Nem nada consta no assento de batismo da irmã, Maria, nascida em 1704. Nem nada consta no casamento da irmã, nem no registo de nascimento dos sobrinhos. Nada consta sobre esta ser uma família de escravos nos registos de São Francisco da Serra.

Já no Vale de Santiago, deparei-me com o seu assento de casamento com Laurência Maria, em maio de 1737, que faz referência à sua condição de escravo, mais especificamente seria escravo de António Miranda.

Antes disso, em março de 1737, foi batizado, também no Vale de Santiago, o filho de ambos, José, sem que nada se diga sobre o pai ser escravo.

Mais tarde, dei com o óbito de Maria, filha de Manuel Nunes e Luísa Jorge, sua segunda mulher e, no registo de óbito consta como “filha de Manuel Nunes, escravo de António Miranda”.

Quanto o volto a encontrar em novembro de 1740, no registo de casamento com Bárbara Guerreira nada consta sobre ser escravo. E nunca mais nada vai constar, seja nos registos dos filhos ou no seu óbito.

De registar que todos os documentos que encontrei sobre Manuel Nunes, no Vale de Santiago, são assinados pelo padre Manuel Fragoso Rodeia, que acompanhou todo o seu percurso de vida nessa localidade, inclusivamente a extrema unção que lhe ministrou “de baixo de condição por estar sem fala”. Conhecia-o bem e sabia bem quem ele era. Escravo primeiro, não escravo depois. Se já não era escravo porque não menciona “livre” ou “forro”?

Depois de tanta pesquisa sem encontrar solução para as minhas perplexidades, só vejo duas soluções: a mesa de pé-de-galo para uma sessão espírita ou, uma máquina para viajar ao passado.

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