São Bento de Araraquara

Fotografia: Beneficência Portuguesa em Araraquara, fundada em 1914 e que é agora um dos melhores hospitais do Brasil

Lembro-me perfeitamente da primeira vez que ouvi a palavra Araraquara: foi numa telenovela brasileira qualquer onde um fulano que tinha um restaurante estava constantemente a ir a Araraquara comprar produtos frescos porque lá as frutas e legumes eram de melhor qualidade. Achei a sonoridade do nome tão interessante que nunca mais o esqueci.

Voltei a cruzar-me com este nome a propósito das irmãs da minha avó materna que foram para o Brasil. Como disse antes, ao tentar encontrar o tio da minha mãe no Brasil, descobri que a minha avó teve mais duas irmãs: Maria e Adelaide. Para saber mais sobre elas procurei o registo dos respectivos casamentos e foi aí que me cruzei com a informação referente a Araraquara. Uma das irmãs da minha avó, a Maria casou em Santana no dia 29 de Janeiro de 1903 (tinha a minha avó apenas dois anos) com José Martins que já era "viúvo de Maria Joaquina que faleceu em São Bento de Araraquara", claro! Ele já tinha 30 anos e ela 18 e o pai dela autorizou que fosse dispensada a terceira proclamação: havia pressa. Se havia pressa só podia ser por dois motivos, ou havia bebé a caminho ou , era urgente voltar ao Brasil. Recorri à base de dados do Arquivo Regional da Madeira, o melhor arquivo de Portugal e não é bairrismo, para consultar os passaportes e lá estavam eles com um pedido ainda em Janeiro com destino a Santos acompanhados pelas duas filhas dele do primeiro casamento, uma menina de seis anos e outra de quatro. E foi a última vez que encontrei algum registo deles na Madeira. Fui reencontrá-los, como não podia deixar de ser, em Araraquara graças ao facto dos assentos de Araraquara se encontrarem microfilmados.

Foi emocionante descobri-los já estabelecidos no Brasil e de alguma forma enterneci-me com os filhos que foram nascendo e lastimei aqueles bebés que tiveram e que morreram.

Estes assentos de baptismo do ínicio do século passado são muito sintéticos quando comparados com os de Portugal para a mesma época. Neles não constam os nomes do avós, nem todos mencionam a naturalidade dos pais e só muito raramente referem a sua ocupação. Não deixam no entanto de constituir uma fonte preciosa de conhecimento demográfico. Uma das afirmações que podemos fazer é que os registos paroquiais de Araraquara, em geral, relativos ao primeiro quartel do século XX estão cheios de nomes de pessoas que são originárias da Madeira. Uma contagem rápida diz-nos que 40% dos indivíduos são naturais da Madeira e das freguesias de Santana e Faial, outros 40% são Italianos, com um valor residual de Espanhóis e naturais do Brasil. Foi por esta razão que fiquei perplexa com a ausência de qualquer referência aos imigrantes Madeirenses/Portugueses na página do município de Araraquara que refere apenas a importância das comunidades italiana e espanhola no desenvolvimento da cidade. Foi este o motivo que me levou a colocar no topo desta minha reflexão a imagem da Beneficência Portuguesa em Araraquara.

Na época em que a minha tia-avó Maria Pereira da Silva se estabeleceu em Araraquara com o marido José Martins a cidade tinha cerca de 12 000 habitantes com as mais variadas ocupações. As pequenas oficinas manufactureiras eram controladas pelos emigrantes europeus que produziam vários produtos como bebidas, alimentos têxteis, etc, no entanto eles provavelmente terão ido trabalhar a terra para uma fazenda de familiares dele já instalados ou então como assalariados. (No registo de casamento o marido surge com a profissão de lavrador no entanto não seria muito próspero porque o vigário "não colocou os selos competentes por motivo de pobreza".)

Tiveram seis filhos entre 1904 e 1912: José como o pai(faleceu com apenas dois anos), Manuel, Ana (o nome da minha avó, a mais nova das irmãs e a única que ficou na Madeira), Adelaide (a outra irmã), António (falecido com sete meses) e Benta. Dos quatro sobreviventes alguns seguramente terão deixado geração. São os descendentes desses descendentes que procuro a partir de agora nesta viagem que continua pelos Campos de Araraquara.

Comentários

Sueli Donati disse…
Olá. Eu sou brasileira e também faço a genealogia da minha família.
Também utilizo os microfilmes dos Mormons nas minhas pesquisas. E como você disse, é muito difícil ir em frente com a genealogia procurando os batismos aqui no Brasil. Os padres omitiam muitos detalhes e com as poucas informações é quase impossível avançar nas pesquisas. Mas é bom lembrar que os padres aqui, do século XV até a metade do século XX eram todos "estrangeiros": portugueses, espanhoís e italianos.
Mas parece que nem todos se importavam com essa "colonia" de Portugal.Os batismos e casamentos eram registrados de qualquer maneira e os livros não eram bem conservados.Felizmente tem exceções e consegui achar muita coisa.
Boa sorte em sua pesquisa
Joshua disse…
Pois é Sueli nessa época o Brasil ficava muito longe de Portugal...agora é tudo mais fácil.
Boa sorte para as suas pesquisas também.
:)

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