Arquivo Geral do Exército

Para tentar perceber o que se passou com meu bisavô entrei em contacto com o Arquivo Geral do Exército e pedi a respectiva Folha de Matricula. Utilizei inicialmente o correio electrónico para averiguar se o registo existia e depois de ter provado o interesse directo nas matérias, motivos, e também os direitos que detinha sobre os dados recebi o que havia pedido sem custos. Na prática tive que provar através de fotocópias simples das certidões de nascimento que havia um grau de parentesco entre nós dois. E se eu estivesse a fazer uma investigação sobre alguém que não fosse meu parente? Como seria? Ficaria impedida de o fazer? Qual é o limite temporal para estas informações poderem ser públicas? Todo o processo levou 4 meses.



Não sabia o que esperar de uma Folha de Matricula mas na verdade comprovei que é uma óptima fonte de informação. Fiquei a conhecer muito melhor este meu bisavô Francisco Malveiro. Uma coisa que me espantou e que vem logo à cabeça é a sua estatura: 1645 milímetros. Quando o conheci pareceu-me bem mais alto. Nessa época eu era uma criança pequena e quando o vi em casa do meu avô fiquei com essa imagem. Refere também uma cicatriz na face do lado direito.



Foi alistado no dia 10 de Setembro de 1910 recrutado para servir por 15 anos e apresentou-se no dia 8 de Novembro de 1910. O meu avô nasceu em Junho desse ano. Passou voluntariamente ao Serviço do Ultramar na Província de Moçambique em 28 de Abril de 1912. Embarcou dia 1 de Maio e desembarcou no dia 28 em Lourenço Marques e foi-lhe aumentado 50% no tempo de serviço que passou a 150% quando esteve em Cabo Delgado. Passou à disponibilidade a 25 de Dezembro de 1918 por haver completado o tempo.



No verso fiquei a saber que não tinha quaisquer habilitações literárias ou profissionais quando foi incorporado mas que concluiu o primeiro grau da instrução primária em 12 de Abril de 1915. Em Março de 1916 tirou nove dias de licença altura que coincide com a data de casamento. Deste casamento não teve filhos. Esteve ainda 113 dias de licença por doença. Será que o este Arquivo guardou as Cadernetas de Saúde?



A parte mais divertida de ler foi o registo das infracções disciplinares. Em 1913 teve 6 dias de detenção porque apareceu sem chapéu. Em 1915 foi chamado quando estava de folga e só apareceu 1 hora depois. Resultado: 4 guardas. Em 1916 esteve 16 dias detido por se ter ausentado sem autorização e em 1918 mais 10 dias por faltar à formatura do recolher.



O que fez depois de sair do exército? Não sei nada de concreto. Só aquilo que ouvi dizer. Que tinha comércio. Que tinha um colégio. Que a sua mulher trabalhava nos correios. Que tinha fazendas que vendeu antes da descolonização...Num mundo ideal, levantava-me agora da secretária e ia para Moçambique tirar isto a limpo!!!

Comentários

Metódica disse…
Hum...
Realmente essa folha de matricula é bastante útil.
Tens ai informação sobre tudo o que se passou durante essa época :)

4 meses! Tanto!
Por uma folha de matricula!
País borucrático o nosso...
Anónimo disse…
O Arquivo Geral do Exercito tem 9 milhões de processos individuais. É bastante difícil encontrar quando as informações prestadas são praticamente nulas, principalmente a data e o local de nascimento.

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