Pesquisar em Cabo Verde - Última Parte

Numa tentativa de saber onde se encontram os registos paroquiais de Cabo Verde, anteriores ao século dezanove, fiz algumas pesquisas iniciais. Procurei então informação sobre o Arquivo Histórico Nacional de Cabo Verde e conclui que é impossível aceder a informações básicas sobre os fundos que o constituem via www ou via telefone. O ANHCV tem um domínio registado ( http://www.ahn.cv/) mas não está activo e toda a informação que se consegue é fragmentada e encontra-se dispersa por alguns, poucos, documentos na net. Também ninguém atendeu das várias vezes que liguei para os números que encontrei como sendo dessa instituição.
Saber alguma coisa de fonte fidedigna sobre este arquivo nacional implicará um contacto privilegiado, aka ter o telefone particular do seu director ou mais heróico ainda, para quem tem como eu uma pele sensível, uma viagem até esse país.

De qualquer forma parto do princípio que a documentação que procuro não está nem neste Arquivo Nacional nem nas Conservatórias. Se alguém soubesse onde está o que eu procuro já os Mormons, essas formiguinhas da microfilmagem genealógica, teriam procedido às microfilmagens à semelhança do que aconteceu com todo o século XIX.

A dada altura, foi-me até sugerido que a potência colonizadora, vulgo Portugal, teria ficado com esse pedaço de história tendo feito o seu transporte para a metrópole! A ser assim estes livros paroquiais estariam ou na Torre do Tombo ou no Arquivo Histórico do Ultramar.

Ideia peregrina esta! Mas não, não estão! Nem poderiam estar. Portugal não pensou em lá grande coisa quando entregou as Províncias Ultramarinas...

Então onde estão? Cabo Verde não viveu uma situação de guerra como a Guiné Bissau ou Angola. Não houve destruição maciça. Onde param os paroquiais?

Certamente que terão sido transferidos para as Conservatórias do Registo Civil instituídas no inicio de 1911 por força da Lei de Separação da Igreja do Estado que determinou que todos os registos paroquiais (baptismos, casamentos e óbitos) anteriores a 1911 fossem transferidos das respectivas paróquias para as conservatórias. Ou estarão em algum Arquivo Eclesiástico?

Acho difícil que não se tenha cumprido esta lei até porque em documentação consultada da Diocese de Santiago de Cabo Verde é feita referência ao "vendaval anti-religioso implantado em 1910".
Assustador é pensar que toda esta documentação foi destruída. Estamos a falar de uma diocese que foi criada em 1532! São quase 500 anos de documentos...

Com isto na ideia e porque acredito que é urgente Cabo Verde divulgar esta valência cultural que está muita para além da cachupa, da morna ou do turismo resolvi abordar o meu contacto privilegiado: o próprio primeiro ministro de Cabo Verde José Maria Pereira Neves.

Este governante, ao contrário do Arquivo Histórico Nacional do pais que dirige, não é infoexcluido, tem um blogue pessoal e uma conta de facebook sendo que eu sou uma das suas amigas facebookianas.

É evidente que com isto não esperava uma resposta, pretendia apenas evidenciar mais uma carência do país e que se situa também ao nível da falta de divulgação cultural da documentação história e também da actividade desenvolvida, se é que existe alguma, por parte desta instituição.

(Segundo parece receberam fundos para tratamento de um imenso espólio fotográfico sobre Cabo Verde que se encontra naturalmente indisponível. Qual o melhor meio para divulgar imagens do que a web?)

Em vez da resposta que procurava recebi pedidos de amizade de alguns caboverdianos e caboverdianas. Assim entrei no circuito dos expatriados e diasporizados mais intelectulizados do que a generalidade daqueles que procuram os meus serviços profissionais.

E é aqui que começa a minha perplexidade... e é reforçada também a minha convicção de que todos os caboverdianos deveriam ter acesso à sua genealogia. Deveriam conhecer a sua ascendência para que se pudessem reconciliar com as pedras de xadrez, do jogo, que os originou.

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