Uma família que somos todos nós — no Museu Judaico de Munique
Visitar a exposição “I Am My Family” (Sou a minha família), de Rafael Goldchain, no Museu Judaico de Munique, foi uma experiência chocante e cativante. A princípio, todos os retratos parecem familiares — parte da mesma família — até que se percebe o truque: são todos a imagem do artista. Esse momento de reconhecimento traz uma mistura de surpresa, humor e melancolia.
Goldchain recorreu a um extenso trabalho genealógico e familiar para dar corpo a cada imagem. Retratando-se como diversos antepassados — alguns reais, outros inventados —, ele confronta a ausência de fotos familiares e a memória fragmentada pela diáspora e pelo Holocausto. O resultado é uma galeria repleta de nostalgia, tragédia e um sorriso discreto.
Esta experiência fez-me pensar também nas minhas próprias buscas genealógicas. Ao olhar para aquelas figuras inventadas, mas ao mesmo tempo tão verosímeis, senti de novo a eterna frustração de quase nunca ter uma fotografia ou imagem dos meus antepassados, mesmo dos mais próximos, como os bisavós. Falta-me esse rosto, esse olhar que tornaria mais palpável a ligação com o passado. O artifício de Goldchain, nesse sentido, espelha um desejo que também é meu: o de dar corpo e expressão aos que já partiram, mesmo quando não há vestígios visuais para os recordar.
A exposição funciona no limiar entre a ficção e a memória, mostrando como recriar uma ancestralidade perdida é também uma forma de luto e resistência. É um tributo visual àqueles de quem pouco ou nada sabemos, mas que moldam a nossa identidade.
Para lerem mais sobre o projeto, podem visitar:
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Site de Rafael Goldchain: rafael-goldchain.squarespace.com/i-am-my-family
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Sobre a exposição “I Am My Family” : Center for Fine Art Photography
E, para contexto adicional sobre a mostra no Museu Judaico de Munique, em diálogo com rememorações transgeracionais, encontra mais sobre a exposição “The Third Generation – The Holocaust in Family Memory” (juedisches-museum-muenchen.de).
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