Isabel Duarte de Santa Maria de Avioso, Maia, Porto (1593-1632)

No derradeiro mês do distante ano de 1593, nasceu Isabel Duarte, minha antepassada direta, filha do casal João Duarte e Maria Pires, de Cidadelha, um lugar antigo que remonta a épocas há muito passadas. Este recanto bucólico, nas cercanias de Santa Maria de Avioso, concelho da Maia, Porto, testemunhou o início da vida desta mulher, cujo destino estava destinado a entrelaçar-se com os caminhos da história e das tradições da região.

Batismo Isabel Duarte

Avioso, uma modesta paróquia, tinha as suas raízes fincadas nos anais da história desde tempos imemoriais. Sob o olhar vigilante do Convento de Santa Clara do Porto, o lugar viu seus dias de glória durante os séculos XV e XVI, quando figurou entre as terras mencionadas no novo foral concedido à Maia por D. Manuel I, datado dezembro de 1519, na cidade de Évora.

Nas antigas crónicas, menciona-se esta freguesia como um ponto de referência desde o ano de 1014, quando se falava de um "arrugio auenoso", mistério perdido nos nevoeiros do tempo. Mas foi nos séculos seguintes, durante o reinado de Afonso III, que Avioso, cujo orago é Santa Maria, se tornou mais relevante, sendo referenciada como "Sancte Marie de Avenoso".

Era uma terra onde as mãos calejadas dos camponeses teciam a subsistência da comunidade. Os campos ondulantes eram adornados com o verdejante da aveia e do milho, cujo cultivo moldava a paisagem e ecoava os murmúrios do passado, enquanto os sinos da igreja tocavam a cadência do trabalho e da devoção.

Entretanto, Avioso não era apenas um enclave rural. Entre as sombras das árvores frondosas e os campos dourados, floresciam talentosos artesãos, especialmente os santeiros, cujas habilidades em esculpir imagens de fé seriam conhecidas em toda a região. Com gesso, barro e pedra de Ançã, esses artífices moldavam ídolos divinos, emprestando-lhes a essência da devoção e o brilho da arte.

Nesta quietude dos tempos antigos, nasceu Isabel Duarte, filha de pais cujas ocupações se perderam nos anais do tempo, mas que se presumem terem sido figuras respeitadas. Pouco se sabe, então, sobre eles, à exceção da presença frequente do nome de seu pai João Duarte, figura proeminente nas páginas dos registos paroquiais, cuja partida deste mundo a 21 de abril de 1629, foi marcada por uma cerimónia grandiosa e inigualável com um ofício de corpo presente com12 padres, que passaram a 14 nas missas de mês e de ano. Pobres não seriam.

A vida de Isabel desdobrava-se entre as tarefas quotidianas e os rituais da fé, preparando-a para os desafios que o destino reservava.

Isabel, como muitas jovens de sua época, embarcou na jornada do matrimónio. Em um remoto dia de janeiro de 1620, uniu-se a Jorge Anes, abençoando-se assim uma dupla aliança entre famílias, pois seu irmão Domingos Duarte casou nesse mesmo dia com Margarida Jorge, irmã do noivo. 

A família de Jorge Anes e de Margarida Jorge também teria muito de seu, pois aquando do falecimento do patriarca, outro Jorge Anes, a 25 de março de 1618, ficamos a saber que fez disposições finais e que nomeou testamenteiro um seu genro, casado com a sua filha Maria Jorge.

Contudo, a roda da fortuna girou implacável, levando consigo o esposo Jorge Anes, a 14 de março de 1624, deixando Isabel viúva com 27 anos de idade, pouco depois de ter dado à luz o único filho do casal a quem chamaram também Jorge (nascido a 31 de janeiro de 1623). Presume-se que terá sido uma morte repentina e inesperada pois não fez manda nem testamento, como havia feito seu pai Jorge Anes.

Mas o destino, com suas tramas intricadas, não tardou a tecer outro capítulo na vida de Isabel. Em menos de um ano após o luto, ela se uniu a Francisco Gonçalves, um filho das terras de São Mamede do Coronado, em uma cerimónia que pareceu apressada aos olhos dos observadores, mas que trouxe consigo uma nova esperança e um novo lar.

Francisco Gonçalves era filho de Pero Gonçalves, defunto à data do evento, 7 de outubro de 1624, e de Maria Gonçalves que vivia então em Paiço, referida nos dias de hoje como sendo uma aldeola situada nas imediações de Coronado, que à época seria um dos mais importantes lugares da freguesia, onde se encontravam diversas casas senhoriais de agricultores abastados. 

Foi casar a Avioso com Isabel, mas não esteve sozinho, levou consigo distintas figuras, o Abade do Coronado, Manuel Barbosa e o da Barca, Simão Ferreira, suas testemunhas.

Casamento de Isabel Duarte com Francisco Gonçalves

Com Francisco, Isabel encontrou um novo lar em Ferreiró, para onde tinha ido viver aquando do seu primeiro casamento, localidade situada a cerca de 1km do lugar onde nasceu, Cidadelha. Aí gerou filhos e a eles se dedicou.

Fruto deste segundo matrimónio, temos conhecimento de três filhas: Margarida em novembro de 1625, Maria em janeiro de 1628 e Domingas, em data que desconhecemos. As duas últimas com geração, sendo que eu descendo de Domingas Duarte.

Mas a vida, impiedosa em sua passagem, arrebatou Isabel deste mundo ainda muito nova, em fevereiro de 1632, com 39 anos, deixando para trás mistérios e conjeturas sobre sua partida, e uma descendência ainda de tenra idade, que carregaria consigo o seu legado.

Óbito de Isabel Duarte

E assim, o tempo seguiu seu curso inexorável, entrelaçando os fios do destino de Isabel com os de seus descendentes, cujas vidas se foram desdobrando em Avioso, até que vamos encontrar um seu neto, muito longe de casa, em Monchique, onde se estabelece em definitivo. 

Mas essa, já é outra história. 


Algumas fontes:

PT-ADPRT-PRQ-PMAI11-001-0001_mm00261_Baptismo Isabel Duarte
PT-ADPRT-PRQ-PMAI11-002-0001_m00345_comFranciscoGonçalves
PT-ADPRT-PRQ-PMAI11-003-0001_m00449_obitoIsabelDuarte

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