Manuel Fernandes das Covas

Quando o visitador Jerónimo Teixeira Cabral chegou ao Funchal em finais Abril de 1591, alterou completamente a situação dos cristãos-novos residentes na Madeira.

Tudo começou com o sermão proferido em Maio na Sé em que se procedeu à leitura do édito da fé que exortava os fieis a delatar qualquer heresia ou apostasia de que tivessem conhecimento.

Nesta altura, alguns cristãos-novos, optaram por confessar voluntariamente a sua culpa contra a fé católica ainda dentro do "tempo de graça" na esperança de serem perdoados e absolvidos desde que abjurassem. De entre estes houve quem denunciasse outros, muitas vezes parentes e amigos, para tentar provar o seu sincero arrependimento.

Já os cristãos-velhos ao ouvirem a descrição pormenorisada das práticas judaizantes perceberam que muito comportamentos, que lhes pareciam normais, eram afinal ritos e cerimónias judaicas. As festas que alguns realizavam aos sábados, o acender das velas, o não comer alguns alimentos ou o amortalhar os mortos em pano novo passa então ter outro significado.

E instalou-se o terror entre os cristãos-novos...

Em 1592 é então efectuado pelo visitador do Santo Ofício o "relatório dos culpados". Esta é uma lista extensa de pessoas e suas famílias que residiam quase todos no Funchal. Excepto quatro arrolados que viviam em outras localidades: um deles era este meu antepassado Manuel Fernandes das Covas.

Em 1592 Manuel Fernandes já tinha morrido, no entanto aparece no relatório embora na condição de defunto, morador que fora "Detrás da Ilha" ou seja vivera na costa norte da Madeira.

O que me deixou perplexa não foi o facto de ter sido arrolado após a morte ( dezassete dos arrolados já haviam morrido), o que não consigo perceber é a ausência do nome da filha dele Isabel Fernandes das Covas. Provavelmente ter-se-à distanciado das práticas religiosas das "gentes de nação" quando casou em com André de França em 1581 e aquando da chegada do visitador já não restariam quaisquer dúvidas sobre a sua fidelidade à fé católica.

O pai, Manuel Fernandes, casou em 1574 na Sé do Funchal com Maria Alves Martins de que nada sei e foi "rendeiro das miúnças"das localidades de São Vicente, Ponta Delgada e Boaventura (tudo na costa norte da ilha). Era filho de António Fernandes das Covas, mercador do Faial e de Grácia Mendes e neto paterno de António Paulo, médico na mesma freguesia.

Seria muito provavelmente parente de um dos arrolados, o médico Constantim Paulo, e de muitos outros citados mas ainda não consegui estabelecer a ligação, até porque a caligrafia do século XVI me deixa a cabeça em água.

Bibliografia interessante: Rol dos judeus e seus descendentes do Arquivo Histórico da Madeira onde são contadas estas e outras histórias...

Comentários

Virginia disse…
Manuel Fernandes das Covas tem vários irmãos. Eles também ficaram livres da inquisição? Estranho, não?
P.S. - descendo de Isabel Fernandes das Covas

abraços

Virginia
Joshua disse…
Virginia,
O Paulo é o único irmão dele que consegui "apanhar", mas esse já casou "bem", com cristã-velha. A filha fez o mesmo. Talvez ele fosse mesmo o último moicano...
Abracinhos prima ;)
Virginia disse…
Qual Paulo? Paulo antonio, cc Agueda de Mendonça? Não achei esse casamento, somente a citação de batismos, cujo padrinho era antonio fernandes filho de paulo antonio e agueda de mendonça
Joshua disse…
Tambem nao tenho esse casamento. Tenho o casamento do filho deles, António Fernandes das Covas.
Eneida disse…
Boa noite, Joshua! Eu sou descendente de António Fernandes das Covas e do seu filho Antônio Teixeira Calaça, mas até agora não consegui encontrar registros que comprovem essas descendências. Você poderia me ajudar?

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