Farrapos e Farrapitos!

A alcunha é o antepassado do apelido. Antes de haver apelidos havia alcunhas que eram como são ainda hoje atribuídas pela comunidade a um indivíduo ou a um grupo de indivíduos e que depois em alguns casos passaram a fazer parte do nome de cada um.
O Professor Ramos, que me deu aulas na faculdade, tem um livro muito engraçado chamado "Tratado das Alcunhas Alentejanas". Quem folhear o livro vai poder sorrir, rir e até mesmo gargalhar com os exemplos iniciais.
Por culpa da actual mobilidade geográfica, não vivo onde cresci nem cresci onde nasci, dificilmente os meus filhos herdarão a minha alcunha dos tempos de escola de que até gosto bastante.
No meu caso tenho uma alcunha simpática mas nem sempre é assim. É o caso da alcunha pela qual eram (são?) conhecidos os Malveiros da zona de Santa Luzia ou do Vale de Santiago: Farrapos. Farrapitos seriam os filhos pequenos dos Farrapos...Simpático, não é? Se eu tivesse ficado pela zona seria provavelmente a Farrapa e os meus filhos os Farrapitos...Não consigo deixar de pensar que até seria engraçado.
O meu avô, o tal que era filho de pai incógnito, herdou a alcunha do pai que de incógnito não tinha nada e assim quando queriam falar dele ( e não com ele!) em tom depreciativo diziam que era o Zé Farrapo. O meu pai que foi um Farrapito que nunca chegou a Farrapo ( lol ) porque foi viver para longe muito cedo, detestava quando o tratavam assim na escola e ainda andou à pancada por causa disto.
O primeiro Farrapo de que há memória ( só por iniciar esta frase fico com vontade de rir...) era um alfaiate de Santa Luzia tio do meu bisavô Francisco Malveiro. Segundo consta era muito bom alfaiate e muito bom amigo do seu sobrinho Francisco e do seu sobrinho-neto José Josué. Diziam que era muito vaidoso e que gostava de se vestir bem mas como as posses não seriam muitas utilizava os retalhos que lhe sobravam dos fatos que fazia para fazer os seus próprios fatos. Como os tecidos não eram todos iguais podem imaginar a figura! Os mais maldosos acrescentavam ainda que a camisa que usava de camisa só tinha as mangas e os colarinhos: o resto não existia porque não havia tecido suficiente...Seja como for ficou na história e na memória e até consta no tal Tratado de que já falei ...e a propósito disso a minha alcunha também lá está. Qual será?

Comentários

Mensagens populares