O estranho caso da certidão de nascimento do (e)terno presidente angolano

De vez em quando, especialmente por altura de eleições, surge a questão do local de nascimento do presidente de Angola, José Eduardo dos Santos. A versão oficial é de que terá nascido em Luanda, a versão não autorizada diz que nasceu na ilha de São Tomé. Ambas as versões concordam que será filho de Eduardo Avelino dos Santos e de Jacinta José Paulino. Ambas as versões passam por São Tomé. Na oficial os pais terão vivido lá, o filho José terá nascido em Angola, insinuando ainda a ideia que os pais seriam trabalhadores ocasionais em São Tomé, de origem angolana. Na versão não confirmada que corre há anos, o pai seria natural de São Tomé, descendente de escravos que se teriam cruzado com um cidadão holandês que passou àquele arquipélago, em data desconhecida. Da mãe, diz-se que descende de cabo-verdianos e guineenses. Seja como for, a ligação a São Tomé parece ser uma constante na vida de JES: a sua actual mulher, Ana Paula, é de origem são-tomense.

Quem é na verdade José Eduardo dos Santos? Onde nasceu? Qual origem dos seus pais? Que sangue lhe corre nas veias?

Uma pesquisa rápida pela net nada esclarece.

Até mesmo um sítio de referência para estes assuntos, o Geneall, tem apenas uma brevíssima ficha que o dá como nascido em Luanda, sendo que para outras figuras públicas apresenta muito mais informação. 

Para o presidente angolano existe apenas esta reduzida nota,  que se reproduz, provavelmente incorrecta, enquanto que para muitos outros políticos estrangeiros existem extensas notas biográficas e genealógicas. Também no alargado fórum deste sítio nada consta sobre a genealogia deste senhor e existem poucas entradas para assuntos angolanos. E ainda dizem ,alguns angolanos, que existe um interesse mórbido dos portugueses por Angola. O português em geral quer lá saber...


A única "prova" documental disponível on-line, que defende a versão não oficial, é uma cédula pessoal, abaixo reproduzida, que se me afigura claramente forjada. Aparenta ser a primeira página desse documento no entanto, por exemplo, a caligrafia não me parece corresponder ao estilo usual para a época. Mais importante ainda, a cédula pessoal era um documento que se entregava aos pais do nascituro aquando do seu registo, não era nem é um documento passível de solicitação de cópia, ficando com o próprio, acabando em muitos casos por se extraviar. A ser autêntico, conseguiram este documento como? Credível poderia ser uma cópia de certidão de nascimento, que pode ser solicitada por qualquer um, enquanto documento público que é. 



Mas será assim tão complicado chegar ao fundo desta questão? Onde param os dados do registo civil de São Tomé para a década de 40, do século passado? Pergunta sem resposta. 

Os favoráveis à teoria da conspiração defendem que a certidão original foi destruída, propositadamente, a mando do próprio. Parece-me rebuscado, tendo em conta que Portugal pouco fez para acautelar os dados do registo civil ultramarino. O mais certo é não existirem esses registos, por incúria de quem tinha à época da descolonização, a responsabilidade de os preservar.

Há quem possa pensar que esta é uma questão redundante, afinal a pessoa em causa nasceu no chamado tempo do colono, como tal nasceu português.

Na verdade, a ser assim não será tão redundante se, por exemplo, pensarmos que o actual presidente de Angola não teria direito, em princípio, à nacionalidade angolana de acordo com a recentemente alterada lei da nacionalidade angolana. Isto sem querer entrar nas questões de jus sanguinis tão caras a quem gosta de apelar ao tribalismo.

Mas há mais que não entendo: porque ainda não houve uma investigação jornalística sobre isto? Tanta peça de investigação sobre tudo e mais alguma coisa sobre Angola e sobre isto nada.
Porque é um assunto que deverá interessar a genealogistas profissionais ou amadores, não?

Na falta de dados concretos, só resta dizer que onde há fumo, há fogo até mesmo, e especialmente quando se trata de genealogia e/ou história da família. Seguramente, em São Tomé, os mais velhos terão alguma coisa para contar, mesmo na ausência total de provas documentais. 

Alguém terá que lá ir. Alguém com a vacina da febre amarela em dia. Alguém como eu!


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