A Abadia do Sacromonte de Granada

A Abadia do Sacromonte em Granada é um edifício enorme, repleto de história, localizado num sítio místico.
É também o local onde o meu antepassado Diogo Domingues Pablo declarou ter passado parte da sua vida. Diogo estudou nesta abadia durante seis anos no Colégio de Teólogos e Juristas, que foi inaugurado no dia 30 de Outubro de 1610, no seguimento das directrizes do Sagrado Concilio Tridentino que advogava a criação de centros de estudos que promovessem a formação de sacerdotes.




Ao tentar perceber melhor como o filho de um casal que residia em El Almendro, na zona de Huelva e como tal perto da fronteira com Portugal, sem vínculos conhecidos e com recursos económicos que presumo confortáveis, mas não notáveis, vai estudar, presumo eu,  no início de oitocentos para Granada, uma universidade tão distante e prestigiada, encontrei alguma documentação sobre este colégio e seminário diocesano.

Neste documento intitulado El colegio de teologos y juristas "San Dionisio Aeropagita del Sacro-Monte de Granada" (1752-1800) é feita uma breve abordagem histórica da instituição, desde a sua fundação até à sua conversão em centro de ensino superior a que se segue uma explanação do que seria a sua vertente pedagógica. 

À partida seriam duas as faculdades existentes nesta universidade, a Faculdade de Artes e Teologia e a Faculdade de Leis. Cada estudante ao entrar, escolheria uma ou outra. Analisando a duração e distribuição dos planos de estudo é curioso confirmar que aquilo que foi dito, no processo de habilitação do Diogo, é corroborado pelo documento agora consultado. Confirma-se que nesta faculdade o curso tem a duração de seis anos, divididos em dois grupos: os primeiros três são dedicados à Filosofia e os restantes à Sagrada Teologia.

É desde modo que fico a conhecer os critérios de admissão rigorosos que certificam, caso existissem dúvidas para o investigador actual, a pertença a uma elite dos estudantes em causa. Sabe-se que os candidatos inicialmente se teriam que submeter a um exame de acesso de Gramática Latina, e caso ficassem aprovados deveriam apresentar os comprovativos de limpeza de sangue, de legitimidade de nascimento, e de bons costumes. Mas, só um período probatório, bem sucedido, de um mês a residir no colégio poderia conduzir à admissão do candidato. É que o tipo de vida quase monacal, com um regimento muito apertado para os estudantes, constituído por uma sucessão de inúmeras actividades e regras diárias, com castigos previstos em caso de incumprimento, não seria adequado para todos. Óbvio, será que o meu antepassado superou todas essas dificuldades. Fascinante seria conseguir acesso ao seu processo do colégio para obter mais dados sobre o seu percurso académico

Para além do requisitos de admissão mencionados no parágrafo anterior, há que ter em conta a questão da não gratuidade da frequência do centro, o que salienta mais uma vez o carácter elitista do colégio. Apesar de todos os alunos terem direito a uma meia bolsa, se não reprovassem ou cometessem uma infracção grave, também se sabe que " el colegial debe costear el Bonete, Beca, Mantón, Sobrepelliz, Curso y todo lo referente a su aseo personal.", ou seja alguém teria que prever estes gastos do meu antepassado. Para além da quota anual, que seria paga em duas prestações, uma em Março e outra em Setembro, haveria que adicionar um valor de 15 reais para os "Mozos de la limpieza",  a que se juntariam mais 50 reais para os gastos das saídas de campo e para as diversas festas da comunidade. 

Note-se que não sei a que época dizem respeito este valores mencionados, a título de  exemplo, presumo que não seja uma quantia dispicienda. Também não sei exactamente quando ingressou Diogo neste colégio, nem quanto custaria a sua manutenção por lá. Socorrendo-me de aritmética simples e atendendo a que nasceu em 1790, o curso teve a duração de 6 anos, e requereu a sua habilitação em 1812, presumo que logo após terminar os estudos e no regresso a casa, apontaria para 1805 ( aos 15 anos)  como a data de ingresso na Abadia. Seria essa a idade média de admissão?

Concluindo, para saber mais sobre o percurso académico deste meu antepassado e detalhes da sua biografia, que me permitam também conhecer melhor as sua origens teria que ir directamente à fonte. Da experiência que tenho de não resposta por parte das paróquias e arquivos espanholes, pouca esperança tenho de conseguir avançar neste aspecto. Resta-me, talvez, a consolação de poder regressar a Granada e pisar o  chão que o Diogo calcorreou.




Comentários

Mensagens populares